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Série Melhores trabalhos V Coesa: Avaliação das alterações posturais e manifestações dolorosas em mães e cuidadores de crianças portadoras de paralisia cerebral atendidos no Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza

PREMIAÇÃO EM APRESENTAÇÃO DE E-PÔSTER

Categoria: Extensão

Área Temática: Saúde pública

Título do Trabalho: Avaliação das alterações posturais e manifestações dolorosas em mães e cuidadores de crianças portadoras de paralisia cerebral atendidos no Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza

Autores: Augusto Barbosa de Sousa Junior, João Amaury Francês Brito, Brenna Pinheiro Mota Brabo de Oliveira, Hugo Henrique Ramos Gurjão e Octávio Vieira Kishi

Instituição: Universidade Federal do Pará (UFPA)

  • Publicado: Quinta, 09 de Fevereiro de 2017, 15h00

O trabalho premiado em segundo lugar na categoria Extensão foi o intitulado “AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES POSTURAIS E MANIFESTAÇÕES DOLOROSAS EM MÃES E CUIDADORES DE CRIANÇAS PORTADORAS DE PARALISIA CEREBRAL ATENDIDOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO BETTINA FERRO DE SOUZA”, de autoria de Augusto Barbosa de Sousa Junior, João Amaury Francês Brito, Brenna Pinheiro Mota Brabo de Oliveira, Hugo Henrique Ramos Gurjão e Octávio Vieira Kishi (Figura 1).

Figura 1 - Recebimento do prêmio categoria Extensão

O Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), no Serviço Caminhar, que atua também como polo de capacitação em desenvolvimento infantil para alunos da área de saúde da Universidade Federal do Pará e para profissionais da atenção à saúde, disponibiliza um acompanhamento multidisciplinar às crianças com Paralisia Cerebral (PC), por meio de uma equipe composta por médicos especialistas, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, enfermeira, fisioterapeuta, fonoaudiólogos, terapeuta ocupacional.

No dia 6 de outubro de 2010 foi inaugurado o Instituto Paraense de Aplicação de Toxina Botulínica (IPAT) dentro das dependências do HUBFS, idealizado e coordenado pelo professor e ortopedista pediátrico Amaury Francês e voltado totalmente para atender o Sistema Único de Saúde (SUS) e cujo público-alvo é a demanda reprimida de crianças atendidas no HUBFS, principalmente as que são cadastradas no Serviço Caminhar e apresentam contraturas musculares crônicas da PC.

Numa abordagem de Atenção Integral à Saúde da criança com PC, a equipe do IPAT (Figura 2) identificou a necessidade do “cuidado com o cuidador”. Em especial, o perfil mais frequente no ambulatório de Mães exercendo o papel de cuidador da criança portadora de PC, tornando-se Trabalho de Conclusão de Curso de Augusto Sousa Jr e submetido e apresentado no V Congresso de Educação em Saúde na Amazônia (COESA) na forma de e-Pôster.

Figura 2 - Equipe do IPAT

Fonte: Arquivo digital do autor da pesquisa

Doenças crônicas infantis, como a Paralisia Cerebral, provocam uma maior vulnerabilidade dessas crianças, desajuste emocional, comportamental e social, sendo que essas implicações psicossociais não envolvem somente a criança, mas também sua família, especialmente as mães que exercem papel importante no cotidiano dessas crianças, pois, assumem a maioria das tarefas relacionadas ao seu cuidado.

Nesse contexto, a mãe de uma criança portadora de paralisia cerebral, na maioria das vezes, encontra-se sobrecarregada devido à necessidade de cuidados específicos e o acompanhamento ao tratamento da criança. Um alvo físico e orgânico notadamente vulnerável em mães e cuidadores é a postura. Concomitantemente, os profissionais de saúde que acompanham a criança lhes exigem muito, passando várias orientações, cobrando colaboração o tempo todo e esquecendo que elas também são mulheres com desejos, aspirações, sonhos e necessidades que nem sempre estão relacionados ao filho.

O estudo objetivou descrever quantitativamente os desvios angulares encontrados nessas Mães e Cuidadores de crianças com PC, sua repercussão no centro de gravidade e as articulações em maior sofrimento e sobrecarga relatadas por mães e cuidadores de crianças com Paralisia Cerebral. Analisar possíveis correlações entre fatores como sobrecarga física e psicológica desses cuidadores, aspectos sociodemográficos como idade do cuidador, nível da dor e grau de limitação da criança com PC.

O presente trabalho foi realizado no período de janeiro a julho de 2016, tratando-se de um estudo quantitativo e transversal com público alvo mães e cuidadores de crianças com o diagnóstico clínico de paralisia cerebral atendidos pelo Projeto Caminhar do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza da Universidade Federal do Pará, situado no Campus I, bairro do Guamá, Belém-PA. O projeto de estudo foi submetido na Plataforma Brasil ao Comitê de Ética da Universidade Federal do Pará - Instituto de Ciências da Saúde com o parecer de aprovação do CAAE: 52272015.5.0000.0018.

Os critérios de inclusão no estudo foram: Indivíduos com idade entre 19 e 45 anos; Indivíduos com nível cognitivo suficiente para entender os procedimentos; Ser mãe ou cuidador de crianças ou adolescentes até 18 anos de idade com Paralisia Cerebral; Assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

Já os critérios de exclusão foram: cuidadores formais (atividade remunerada); Indivíduos amputados ou com presença de alteração neurológica periférica ou central ou fratura de membros inferiores; Indivíduos que apresentaram algum quadro álgico anterior ao nascimento da criança com PC da qual cuidem; Indivíduos que apresentem discrepância entre os membros inferiores maior do que 2 cm; Presença de diagnóstico ou sequela de doença reumatológica ou respiratória.

As crianças com PC classificadas, nos sistemas de classificação GMFCS e MACS, em níveis I e II, nas duas escalas, foram consideradas como leves; as do nível III como moderadas e as dos níveis IV e V foram consideradas graves e agrupadas em três níveis de comprometimento.

A avaliação postural foi realizada por meio da biofotogrametria (variações angulares de pontos anatômicos, como podemos ver nas Figuras 3, 4 e 5) com o Software de Avaliação Postural (SAPO)1. Foram colados adesivos (esparadrapos) nos pontos anatômicos preconizados pelo tutorial desse software por meio da palpação anatômica. Após coletadas, as fotos digitais (nas vistas anterior, posterior e lateral direita, como podemos ver na Figura 6), foram processadas pelo software.

Figura 3 - Ângulos avaliados na vista anterior

Fonte: Ferreira, 2005

 

Figura 4 - Ângulos avaliados na vista posterior

Fonte: Ferreira, 2005

 

Figura 5 - Ângulos avaliados na vista lateral direita

Fonte: Ferreira, 2005

 

Figura 6 - Cuidadora do estudo com pontos anatômicos marcados com esparadrapo

Fonte: Arquivo digital do autor da pesquisa

Para avaliação da sobrecarga física e das manifestações dolorosas, foram utilizados 3 instrumentos: a Escala Visual Analógica da Dor (EVA), graduada de 0 a 10, onde 0 (Zero) significava ausência de dor e 10 a pior dor imaginável (com informações acerca de tempo, intensidade e localização da dor); o formulário de Zarit Burden Interview para sobrecarga física e psicológica; e um questionário próprio com informações sociodemográficas, sobrecarga física e outros problemas físicos.

Os resultados foram compilados no programa Microsoft Excel 2010 e analisados no Statistical Package for Social Science for Windows (SPSS) versão 20, 2012. Foram construídos tabelas simples - que contém as diferentes categorias observadas das variáveis qualitativas e suas respectivas contagens - e gráficos com frequência relativa e absoluta das respostas para cada item investigado. Foi também utilizado como teste não-paramétrico para analisar possíveis associações dos dados obtidos pelo presente estudo o teste estatístico qui-quadrado que, quando apropriado, foi considerado significativo p < 0,05. As correlações entre as variáveis foram verificadas por meio do coeficiente de Spearman.

Foi avaliado um total de 48 cuidadores e encontrou maior prevalência de mulheres (93,75%), refletindo o perfil dos cuidadores de crianças com PC, destacado em outros estudos semelhantes, como o transversal quantitativo2 que encontrou em 40 cuidadores, 38 mulheres (95%) e 2 homens (5%) e os estudos transversais qualitativos como o de Simões e colaboradores (2013) encontrou em sete sujeitos, sendo seis do sexo feminino (85,71%) e apenas um do sexo masculino (14,29%).

Quanto ao grau de parentesco do cuidador e a criança com PC, o presente estudo encontrou resultados semelhantes em estudos que encontraram 90% de mães, 5% de avós e 5% de pais3. Nota-se que o papel do cuidador é fortemente influenciado pelo grau de parentesco e pela relação de gênero.

Ao aplicarmos o teste do Qui-Qaudrado quanto às variáveis sobrecarga do cuidador e o grau de limitação da criança com PC, encontramos correlação estatística entre essas variáveis, com p=0,00947. Ou seja, a qualidade de vida das mães teve correlação significativa com o grau de comprometimento motor crianças.

Quanto ao sítio da dor, a prevalência de sintomas muscuoesqueléticos em cuidadores foi: Coluna Cervical (37,5%), Ombro (29,16%) e Coluna Lombar (10,41%). Em pesquisa da dor em 268 trabalhadores em uma indústria metalúrgica de Canoas-RS, metodologicamente semelhante, encontraram: Coluna Lombar (45%), seguida pelos ombros (35,1%) e Coluna Cervical (34,5%)4. Ou seja, resultados próximos entre cuidadores de crianças com PC e trabalhadores da indústria pesada.

Quanto à avaliação postural por biofotogrametria dos cuidadores com o Software SAPO, os resultados encontrados foram: predomínio à direita de inclinação da cabeça (87,5%) e de inclinação do ombro (75%). Esse resultado assemelha-se a tese de doutorado que encontrou numa população (122 indivíduos) sem manifestações álgicas: inclinação da cabeça (87,9%) e de inclinação do ombro (67,8%). As inclinações da pelve foram divergentes: no presente estudo teve predomínio à esquerda (68,7%), já em Ferreira (2005) encontrou predomínio à direita (42,6%)1.

A avaliação postural com o software SAPO forneceu informações quanto à projeção do Centro de Gravidade (CG) dos cuidadores. Foi notada uma anteriorização da projeção do CG nesses indivíduos, indicando similaridade entre idosos e cuidadores de crianças com PC. Em razão de estudos nos quais idosos apresentam maior oscilação no plano sagital da projeção do CG quando comparados com adultos jovens, havendo uma tendência a anteriorização do CG5, como a Figura 7 ilustra.

Figura 7 - Processo de anteriorização do centro de gravidade nos cuidadores

Fonte: Arquivo digital do autor da pesquisa

Isso significa que há necessidade de um plano de ação multidisciplinar, envolvendo toda equipe que mantém contato com as mães e os cuidadores das crianças com PC. Uma das propostas mais frequentemente utilizadas na prática fisioterapêutica é a de exercícios de alongamento de músculo ou grupos musculares, ou seja, o alongamento segmentar. Clinicamente, o alongamento global tem se mostrado eficiente no tratamento dos desvios posturais e no ganho de flexibilidade.

Conclusão

Dentro da proposta de uma Atenção Integral à Saúde, com o foco no cuidado com o cuidador e suas principais vulnerabilidades, foi satisfatória a metodologia proposta para avaliação postural (SAPO), possibilitando a análise quantitativa do alinhamento postural e das articulações com maior sofrimento nesse público.

Quanto às alterações posturais encontradas por meio dos desvios angulares quantitativamente, promovendo a anteriorização da projeção do Centro de Gravidade nestes indivíduos. Quanto às manifestações dolorosas, as articulações em maior sofrimento e sobrecarga foram ombro, coluna cervical e coluna lombar. Também foi encontrada associação estatística entre grau de limitação da criança com PC e sobrecarga do cuidador.

Os resultados do presente estudo são relevantes no tocante à orientação de mães e cuidadores de crianças com PC, ergonomia, reeducação postural e reabilitação ortopédica. Em função da natureza deste trabalho e pela necessidade de aprofundamento, faz-se necessário compartilhar os resultados com a comunidade acadêmica e sociedade em geral e dar continuidade a essa linha de pesquisa, com estudos que investiguem mais perspectivas, utilizando amostras maiores e, possivelmente, com mais variáveis.

Referências do texto

1. Ferreira EAG. Postura e controle postural: desenvolvimento e aplicação de método quantitativo de avaliação postural. Tese de Doutorado - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo 2005.

2. Simões CC, Silva L, Santos MR, et Al. A experiência dos pais no cuidado dos filhos com paralisia cerebral. Rev. Eletr. Enf. 2013 jan/mar;15(1):138-45. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5216/ree.v15i1.13464. Acessado em 02/07/2016.

3. Tuna H, Ünalan H, Tuna F, et Al. Quality of life of primary caregivers of children with cerebral palsy: a controlled study with Short Form-36 questionnaire. Dev Med Neurol. 2004;46(9):646-8.

4. Picoloto D, Silveira E. Prevalência de sintomas osteomusculares e fatores associados em trabalhadores de uma indústria metalúrgica de Canoas – RS. Revista Ciência Saúde Coletiva. v.13, n.2, p. 507-516, mar.-abr., 2008.

5. Almeida AO, Iunes DH, Jacó CB, et al. Análise comparativa entre adultos jovens e idosos na projeção do centro de gravidade pela fotogrametria: estudo preliminar. UNIFAL-MG 2011. Disponível em: https://uspdigital.usp.br/siicusp/cdOnlineTrabalhoVisualizarResumo?numeroInscricaoTrabalho=3010&numeroEdicao=19 . Acessado em: 01/07/2016.

 

Referência

SOUSA JUNIOR, A. B.; BRITO, J. A. F.; OLIVEIRA, B. P. M. B.; GURJÃO, H. H. R.; KISHI, O. V. Avaliação das alterações posturais e manifestações dolorosas em mães e cuidadores de crianças portadoras de paralisia cerebral atendidos no Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza. In: CONGRESSO DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DA AMAZÔNIA, 5., 2016, Belém. Anais ... Belém: Universidade Federal do Pará, 2016, ISSN 2359-084X.

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